Produtores de videoaulas participam de capacitação sobre acessibilidade com representantes do Ministério da Cultura

Reportagem: Laurence Campos

 

Dados do IBGE apontam que 23,9% da população brasileira tem algum tipo de deficiência, seja ela auditiva, intelectual, física, visual ou múltipla. O número corresponde a 45,6 milhões de brasileiros(as) que precisam de medidas protetivas a fim de garantir acesso à informação e a direitos de liberdade de locomoção e de circulação com segurança.

O caminho para alcançar um ambiente acessível e de igualdade tem sido longo, incluindo a implementação de diversos avanços legais, como leis e decretos. Em 2007, porém, a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo simbolizou um marco desse processo, uma vez que reuniu diferentes áreas do governo e da sociedade civil organizada em torno do tema. Nele, está escrito que “a deficiência (…) resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”; ou seja, a deficiência ultrapassa o indivíduo, tornando-se um conceito atrelado às barreiras que impedem a relação entre as pessoas.

Ciente da importância da inclusão de pessoas com deficiência em seu ambiente pedagógico, o Campus EaD do IFRN vem incentivando a participação dos seus colaboradores em eventos de capacitação sobre o assunto. Na última quinta-feira (08), uma equipe da Coordenação de Videoproduções (COVIDEO) responsável pela produção de videoaulas participou da nona edição do Festival Goiamum Audiovisual, cujo tema foi “Acessibilidade”. No evento, representantes do Gabinete da Secretaria do Audiovisual (Ministério da Cultura) apresentaram o “Guia para Produções Audiovisuais Acessíveis”, produzido pela própria Secretaria, cujo conteúdo aponta para a obrigatoriedade de todas as produções audiovisuais do Governo Federal contemplarem os recursos de acessibilidade.

Segundo o coordenador da COVIDEO, Glácio Menezes, a inserção de legendagem e da janela de libras já vem sendo realizada gradualmente nas cerca de 200 videoaulas produzidas pela coordenação, a fim de se enquadrarem às normas de acessibilidade federais. “Atualmente, nós contamos com o trabalho de um intérprete de libras, que atua na tradução do material que foi e continua sendo gravado e editado no Campus EaD. A nossa ideia é contar, em um futuro próximo, com a participação de consultores com deficiência para avaliar e validar esse trabalho”, explica.

Apesar do número de alunos com necessidades especiais ser minoria no Campus EaD, as videoaulas produzidas com legendagem e janela de libras são disponibilizadas para todos os estudantes via Moodle. O coordenador do Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE), Jean Dias, enumera que o Campus EaD possui 1 aluno cego congênito no curso de Especialização em Geografia do Semiárido e 3 alunas com baixa visão no curso de Licenciatura em Espanhol, grupo que precisa acessar apostilas, vídeos, fóruns e chats com frequência para dar andamento às suas capacitações. “Vimos como importante uma política de formação mais generalizada por aqui. Inclusive, temos um projeto de um curso FIC em Libras para servidores e professores. Estamos planejando o futuro para termos profissionais cada vez mais capacitados nessa área”, antecipa Jean.

Programa “Educação em Pauta” com a janela de libras (tradutor: Jean Dias)

Fonte: COVIDEO / Campus EaD

A nona edição do Festival Goiamum Audiovisual teve palestras, exibições e mesas redondas com nomes do cenário nacional, como profissionais do setor audiovisual do Rio de Janeiro e de Recife. Um dos temas em destaque foi o posicionamento do audiodescritor na produção, uma vez que duas correntes antagônicas estão sendo discutidas: uma defende uma postura neutra do profissional; outra aponta para uma intervenção mais específica a fim de situar o ouvinte no contexto do vídeo. Em depoimento oficial, a coordenadora do Seminário de Acessibilidade no Audiovisual do evento, Andréa Gurgel, disse que o momento foi importante para suscitar reflexões e promover sensibilização. “O desafio é grande e o caminho é longo, mas vamos persistir”, finaliza.